
O impacto ambiental da economia chinesa
16 DE NOVEMBRO DE 2007 — FÁBIO EON, CO-FUNDADOR — EDIÇÃO Nº 46 da RESPONSABILIDADESOCIAL.COM
Economistas lançaram recentemente um relatório no qual afirmam, referindo-se à China, que nunca na história moderna um país mostrou um crescimento assim acelerado. A economia do país cresceu dez vezes desde 1978 e em 2006 mostrou um crescimento de 10,7%, alcançando um produto interno bruto (PIB) de US$2,68 trilhões, enquanto que o Brasil chegou aos US$956 bilhões. As reservas cambiais chinesas foram de US$1,06 trilhão em dezembro de 2006, comparadas as do Brasil que pela primeira vez na história alcançaram US$100 bilhões em fevereiro deste ano. Com exportações estimadas em US$1,4 trilhão, a China deverá tornar-se o maior país exportador em 2008, ultrapassando a Alemanha.
Depois do malogro das reformas econômicas e políticas instituídas pelo falecido líder Mao Tse Tung, a direção do país passou no final da década de 1970 para o pragmático Deng Siao Ping, que deu início as reformas que impulsionaram a economia chinesa. “A China passou por uma industrialização nos últimos vinte anos, que muitos países em desenvolvimento precisaram de um século para completar”, afirma Pan Yue, diretor da agência ambiental chinesa, em uma declaração ao jornal alemão Der Spiegel. No último ano, a economia da China consumiu 26% do aço bruto disponível em todo o mundo, 32% do arroz, 37% do algodão e 47% do cimento fabricado em todo o mundo. São imensos volumes de matéria prima e energia, usados para expandir a até há pouco incipiente infra-estrutura do país. Hoje, as grandes cidades da China parecem verdadeiros canteiros de obras: inúmeros prédios de apartamentos, auto-estradas, aeroportos, portos, pontes e viadutos, construídos num ritmo frenético, por todos os cantos do país.
Mas o ritmo intenso de crescimento também traz graves problemas ambientais. Grande parte da geração de energia na China ainda é baseada na queima de carvão mineral, o que vem causando forte poluição atmosférica nas cidades e grande emissão de dióxido de enxofre (SO²), causador da chuva ácida, que afeta mais de 30% do território do país. Mantido este ritmo, a China deverá ultrapassar os Estados Unidos na emissão de gases de efeito estufa, o que deverá ocorrer dentro dos próximos dois anos, segundo especialistas. A agricultura, praticada em muitas regiões ininterruptamente há mais de quatro mil anos, acabou desgastando o solo e exaurindo os recursos hídricos, que também se encontram seriamente afetados. Neste setor a China apresenta dois problemas graves: a escassez e a poluição da água. Aproximadamente um terço da população chinesa não tem acesso à água potável. O suprimento per capita do precioso líquido situa-se em cerca de um quarto da média mundial. Aproximadamente 70% dos rios e lagos chineses estão poluídos, com cerca de 200 milhões de toneladas de efluentes domésticos e industriais sendo descarregados anualmente em corpos d água.
As ações de agências ambientais e demais órgãos controladores ainda são insuficientes para reverter o processo de degradação ambiental do país. Apesar de existirem novos instrumentos legais que, entre outras coisas, prevêem a construção de apartamentos e escritórios comerciais de acordo com padrões técnicos de eficiência energética e de estar ocorrendo uma verdadeira caçada aos grandes poluidores na maioria das cidades, a situação ambiental na China é bastante preocupante. Persistem práticas de desrespeito à lei, já que muitas empresas e alguns governos regionais preferem pagar as baixas multas ambientais a introduzir práticas ambientalmente corretas. A própria agência ambiental federal não recebe verbas suficientes do governo e é preterida em favor de outros órgãos do governo. Com isso, faltam recursos para compra de equipamentos de monitoramento e controle ambiental e os funcionários da agência ambiental não recebem suficiente treinamento.
Se, por um lado, o vigoroso crescimento da economia chinesa é constantemente elogiado por grande parte da mídia ocidental, colocando a China como exemplo a ser seguido por outros países em desenvolvimento, por outro lado a grave situação ambiental é atenuada ou completamente ignorada. Alguns institutos de pesquisa prevêem que o comprometimento dos recursos naturais básicos, como o solo e a água, aliados as necessidades de uma população de 1,3 bilhão, colocarão em cheque o processo de rápido crescimento da China, além de causar graves problemas sociais.
A China é para nós, em muitos aspectos, um exemplo a seguir. A inventividade, a capacidade de trabalho, a superação das dificuldades e a busca de objetivos, são qualidades que precisamos incorporar mais à nossa cultura. Quanto ao crescimento a qualquer custo – principalmente ás custas do meio ambiente – precisamos tomar cuidado para não cometermos o mesmo erro, mesmo que em menor escala.
